December 15, 2008

Muere lentamente


Muere lentamente quien se transforma en esclavo del hábito, repitiendo todos los días los mismos trayectos, quien no cambia de marca, no arriesga vestir un color nuevo y no le habla a quien no conoce.

Muere lentamente quien evita una pasión, quien prefiere el negro sobre blanco y los puntos sobre las "íes" a un remolino de emociones, justamente las que rescatan el brillo de los ojos, sonrisas de los bostezos, corazones a los tropiezos y sentimientos.




















Muere lentamente quien no voltea la mesa cuando está infeliz en el trabajo, quien no arriesga lo cierto por lo incierto para ir detrás de un sueño, quien no se permite por lo menos una vez en la vida, huir de los consejos sensatos.

Muere lentamente quien no viaja, quien no lee, quien no oye música, quien no encuentra gracia en sí mismo.

Muere lentamente quien destruye su amor propio, quien no se deja ayudar. Muere lentamente, quien pasa los días quejándose de su mala suerte o de la lluvia incesante.

Muere lentamente, quien abandona un proyecto antes de iniciarlo, no preguntando de un asunto que desconoce o no respondiendo cuando le indagan sobre algo que sabe.

Evitemos la muerte en suaves cuotas, recordando siempre que estar vivo exige un esfuerzo mucho mayor que el simple hecho de respirar.

Solamente la ardiente paciencia hará que conquistemos una espléndida felicidad.

Pablo Neruda

Recebi este poema nos anos, dentro dum envelope amarelado com umas notas pessoais no fim. Quando o li pensei: tenho que escrever sobre isto! Agora exponho-o porque sábado morreu mesmo alguém.

Esse alguém já me conhecia há muito tempo, e eu ia conhecendo-o à medida que crescia. Sabia que ele existia sempre que o via na porta de entrada ou na rua. Sabia que ele estava no 3º esquerdo. Sabia que não o podia ir chatear quando o Benfica estava a jogar. Sabia que sempre que lá ia recebia um cd ou um livro, sem pedir nada. Sabia que ele gostava que eu fosse do Benfica! :) E sábado...desapareceu. Deixou de haver 3º esquerdo. O benfica que tanto idolatrava não o ajudou de certeza a passar o último momento no hospital dos Capunhos (até porque perdeu no dia seguinte)...o pior é que eu também não. Não tenho lábia para condenar o Benfica porque eu também não estava lá naquele sábado, num certo quarto do SO no hospital dos Capuchos. Agora só penso que ele desapareceu do mundo. Assim, de crachá diamante benfiquista ao peito e um certo medo de morrer. E eu não fiz nada...
Não lhe passei nenhum 'até logo'. Não lhe passei um 'Eu, que te seguro pela tua mão direita...'. E no meu quadro, não sei se o consigo ver. Mas vejo que não cheguei sequer a por o pincel na tinta.

Muere lentamente... Deixou-se morrer lentamente...? Deixei-o morrer lentamente?
E não consigo deixar de pensar nisto. No que deixo morrer.

...

Mas eu sei que posso dizer 'até logo'. Eu aprendi que sou responsável por o dizer e por não deixar nada morrer.

2 comments:

Anonymous said...

Este texto, do Pablo, é muito bom. Já me tinha cruzado com ele há uns tempos, li-o e reli-o vezes sem fim. É bom para despertar o espirito. Fez-me sentir que tinha muita coisa para fazer e muito medo a perder.

Quanto ao Sr do 3º esquerdo, ele nao morreu, ele "apenas" desapareceu. Enquanto te lembrares da musica que ele te apresentou, dos livros que ele te deu a ler, e principalmente das pequenas coisas que o deixavam feliz, então ele continuará "por cá".

Acho mesmo que a melhor coisa que podemos fazer a alguem que nos deixa é recordar AQUELES momentos com um sorriso solto. Haverá melhor forma de nos recordarmos de alguem?

ladybug said...

:) sim...ele desapareceu mesmo. E que impressão me faz subir as escadas, e passar pelo 3ºesquerdo sem sinal de vida. Em breve, vou ter um vizinho qualquer a ocupar o lugar do Sr. José. Despertar o espirito? Despertas o espirito por um poema... isso é bom sinal. É sinal que ainda está susceptível à mudança :)

Alguém que nos deixa...sim, recordar o bom. Conheço pessoas que estão sempre a tentar arrancar-nos um sorriso. Talvez seja para os guardar quando nao os têm. Eu cá até gosto, quando são genuinamente espontaneos, daqueles que se rasgam e fazem doer a barriga :)
Obrigada pela partilha :)